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Branco. O princípio não contém narrativa, está em branco. Manifesta-se no antes e no depois, mas sem enredo que o sustenha. O seu predicado labiríntico, com índole de manual aleatório de sequências irresolúveis, força o soluto de saída. Tão imperceptível como abstracto. O caminho físico é consolidado através da técnica e da razão horizontal das coisas. O primórdio das suas camadas documenta a procura de harmonias delicadas que se enredam no andamento dos traços e nos confidenciam o seu final particular. Sinais que se escrevem sem aspirar a integridade do sublime, são impelidos por consequência da prática. São sons tornados cores. Por instantes, podemos entender como tudo se origina na mesma fonte. Transforma-se numa equação, onde o som, a imagem e corpo são desenho que se move num só espaço-tempo. Os termos da sua presença inaugural fundem-se, soltando-se do Horizontal quantificável, para se revelarem na Verticalidade algorítmica do não-tempo. Somos coagidos a testemunhar esta projecção física do nosso alto. Do alto claro do nosso ser. Como crianças que se deixam perder sem buscar o rasto de migalhas. 

 

Demolir com critério. Escadas que não o são, flores que não o são, habitações que não o são, paisagens, cores... tudo não o é. Sim, tudo não o é. Querer ver o que não é. O não. Narração com som de pintura. Não encenar para atentar andamentos nesta orquestra visual. Apreender um outro abecedário arquitectado em peças corporizadas numa perspectiva plástica, que não pretende ser escultórica, mas solitária pintura que aspirou a corpo.

 

“Um quadro é a resposta a uma questão que se desconhece.” O autor arrisca. Dos dados lançados em aparente caos surge a ordem nesta oficina seriada de mecanismos por converter. A sua resolução oscila entre tensões que revelam diagramas para a composição final e planícies mentais de abrangente contemplação. Reconvertem-se fenómenos e suplanta-se o constrangimento do suposto. É na compreensão da falta que o autor se deixa conduzir para a concepção de um novo vocábulo sustentado no remoto. Não se espere contemporaneidade. Não há nada de visceral a não ser a vontade, necessidade que ocorre por efeito e não como desígnio. É o termo inerente daquele que só é caminho. O seu sinal calmo, afigura-se docemente incrustado na esfera intemporal, que arriscará quem sabe, servir de rumo para outros iguais, os mesmos que procuram a Verticalidade despojada como via. A possibilidade de sermos guiados por essa necessidade profunda, a de lograr o puro, vive, está lá em forma de iminência a instigar ser incorporada.

 

Uma residual conjectura apolítica de um tudo possível. Segundo ou seguindo os Princípios que nos carregam e nos permitem respirar, assim será a nossa aplicação consciente ou inconsciente. Ou ambas. Ou nenhuma. E/ou nada acontece na realidade. Foi só uma questão de tempo que não passou, passando. Partimos em branco. Ou alvos.

 

Susana Chasse

 

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